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Um pulo na África

Bettina Muradas

“Nunca tive uma manhã na África na qual não despertasse feliz.”

A frase de Ernest Hemingway fala de uma conexão profunda entre o turista-viajante-observador (na sua época, o caçador) e a natureza pulsante do continente africano.

O primeiro olhar para a África surpreende. O verde infinito nos envolve e define as dimensões da natureza. Ao homem na sua pequenez só resta admirar a vida como ela é: selvagem. Os reis da selva se enfrentam em batalhas sangrentas na disputa por território, suas fêmeas e comida. Leopardos devoram um filhote de girafa e cães selvagens perseguem pequenas impalas ao longo da margem do rio.

O ritmo perfeito da rotina na savana é a regra mais sublime.

A nós, observadores, cabe a função de se encontrar nessa cadência.

Finalmente acontece a simbiose e o observador se torna parte. Somos, então, sugados para o universo primitivo que nos encanta e fascina.

Além dos safaris e cenas do cotidiano animal, a África se mostra como um enorme quebra-cabeça onde as peças não encontram seu encaixe perfeito.

Ao longo das estradas na África do Sul, quilômetros e mais quilômetros de “townships” abrigam pequenas habitações de zinco num amontoado desordenado onde vivem milhões de africanos. O continente contraditório carrega nas costas muitos anos de história conflitante: grupos étnicos divergentes, escravidão sempre presente, muito antes do comércio com os europeus, guerras internas e, finalmente, o Apartheid. O regime de segregação racial instalado na África do Sul durou 50 anos e separava brancos e não-brancos. Um regime racista institucional…Foi o único caso na história.

O planeta viu o ativista negro Nelson Mandela encarcerado por 27 anos. Pressões externas e revoltas sangrentas foram cruciais para a libertação de Mandela e a realização de eleições livres. Ele acabou eleito presidente da África do Sul.

O Apartheid ficou tatuado no passado, mas seus efeitos ainda são sentidos. Na África do Sul, o desemprego ronda a faixa de 40%.

As ilhas deslumbrantes de Moçambique, cercadas de areia branca e água límpida, enchem de beleza o litoral africano. O sorriso fácil e o português arrastado da gente moçambicana são a identidade de um povo que tenta sair da pobreza, o IDH do país melhorou muito, mas continua sendo um dos mais baixos do mundo.

Visitei a África.

As cores do norte e a savana no delta do Okavango, as praias e as cidades. O encantamento de quem viu de perto o olhar perfurante da leoa e o pulo do leopardo. O entendimento do fascínio de Karen Blixen, vivida por Meryl Strip, em “Out of Africa”.

“Eu tive uma fazenda na África, no sopé das montanhas Ngongo”. Assim ela começa seu diário, uma declaração de amor às terras africanas.

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